sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Uma resposta - 1x07


   
             Mais uma noite entre sono retido, números discados, celulares fora de área ou desligado, sonhos nostálgicos, saudades dos dias em Sparke... Catarina reluta em levantar da cama, sem motivação, sem forças, sem ânimo e com olheiras de sobra. Não lembrava muito bem o que tinha feito no dia anterior, mas como foi domingo deduziu que seu dia se resumiu a estudar e dormir, exatamente como foi. O sábado foi sim traumático, não só pra Mariana, mas para todos que presenciaram o que Pedro fez com a coitada. Não precisa nem dizer qual vai ser a pauta das conversas em sala de hoje.
                Rodrigo, no caminho pra escola, tenta não mencionar nada da festa ou do que houve depois, mas não resiste e cinco minutos depois já começa a falar descontroladamente tentando defender Pedro pra tentar limpar sua imagem pelo menos com Catarina. Não que detestasse Pedro ou qualquer coisa do tipo, mas Catarina discordava de muitos pontos na personalidade dele e reprovava grande parte de suas atitudes, principalmente quando se referia ao modo como ele tratava Mariana.
                – Não foi intencional cantar a mesma música que tinha oferecido pra Mariana meses atrás. Ele se arrependeu do que fez porque depois do show Letícia falou que queria acabar tudo porque ela percebeu que ele só queria usá-la pra provocar ciúmes em Mariana... Ninguém tenta entender o lado dele também. - tenta explicar Rodrigo.
                – Entender o lado dele? Rodrigo... Desde que cheguei só vejo Pedro brincar com os sentimentos de Mariana, se ele não quer nada sério com ela, deveria deixar bem claro e colocar um basta nisso, já que sabe que ela não consegue. Mas não, ele continua dando esperanças a ela como se um dia fosse ter alguma coisa com ela.
                – Então a burra na história é ela, Catarina! Se sabe disso tudo por que ainda deixa ele fazer essa palhaçada com ela?
                – Porque ela ama. E amar tem dessas coisas Rodrigo... Você doa seu bem estar pra garantir estar com seu bem. É um preço bem injusto, mas a felicidade de ficar perto de quem a gente gosta compensa quase todo sacrifício.
                – Essa não é a Catarina que eu conheço, esse fim de semana te deixou romântica demais... Que droga - Catarina o empurra e os dois riem, dando conta de que já estavam na frente da escola.
                – Qualé! Vamos entrar que uma manhã tensa nos espera, senhor defensor.
                – Pois sim, senhorita piegas.
Quando entram na sala os grupos já estavam formados e não se fala de outra coisa a não ser do fracasso da festa. Do lado esquerdo Marcelo e os meninos da banda comenta sobre quem mais bebeu, quem ficou com quem. Do lado direito as meninas comentam sobre os meninos novos da cidade, quem usou a melhor roupa... E, no centro, Letícia e as amigas fazendo de tudo para não tocar no assunto "festa".
                Catarina e Rodrigo caminham na direção de Pedro, nas últimas cadeiras, deitado por cima da mochila, tentando recuperar o sono do sim de semana. Rodrigo senta do seu lado, remexendo seu cabelo para acordá-lo, Catarina senta do outro lado e tira um livro da bolsa pra esconder o interesse na conversa. Instantes depois, Mariana chega de mãos dadas com Bernardo e todas as conversas cessam. Todos param pra observar o suposto casal novo caminhar e sentar nas cadeiras do meio. Pedro imediatamente se levanta e vai à direção dos dois, olha pra Mariana e a pede pra falar com ele no corredor.
                – Que palhaçada é essa Mariana? Quer me explicar isso?!
                – Explicar o quê Pedro? Não tenho satisfações pra lhe dar do que eu faço ou deixo de fazer.
                – Mariana... Você vai deixar tudo o que a gente tem pra trás por causa de um deslize meu?
                – Um deslize? Pedro, eu não tenho mais coragem nem coração pra continuar nisso! Cansei de ter as coisas pela metade, me contentar com as migalhas de sua atenção, da sua consideração, do seu amor... Eu dei tudo de mim por nós dois e você? O que fez? Jogou tudo no lixo e quebrou meu coração.
                – Mariana, você sabe que estamos numa fase complicada, mas não é assim... Eu gosto muito de você... De ficar contigo... Não faz isso, velho.
                – Viu? Você gosta, você fica na mesma superfície... EU TE AMO PEDRO! Quando é que você vai entender?
                – Eu também! Viu? Nós somos ótimos juntos, meu amor...
                – Hm... Nós... Nunca houve nenhum nós. E agora acabou, entende? A-ca-bou! Siga sua vida e me deixe seguir a minha. Já retrocedi muito ela por sua causa.
                – Com Bernardo? É ele que tu quer que eu deixe conduzir tua vida? Eu nunca vou me permitir te perder pra ele Mariana. Nunca!
                – Então se contente, porque você já perdeu. E não tem volta Pedro. - Ele segura nas mãos dela e diz calmo: "Mariana... Não faz isso com a gente, por favor...".
                – Adeus Pedro.
                Mariana se vira e entra na sala. Pedro fica no corredor desacreditado no que acabara de ouvir, não é possível que ela tenha mudado tanto, não é admissível perder tudo dessa maneira. O professor chega e manda todos entrarem na sala pra começar a aula. Porém Pedro pega suas coisas e vai pra casa.
                Catarina não compreende as atitudes de Pedro e até fica brava com Rodrigo por estar sempre defendendo e encobertando as coisas erradas que ele faz. No intervalo Mariana vem lhe agradecer pelo apoio que ela lhe deu na festa e por ter se importado com ela, mesmo sem ter tanta proximidade assim.
                – Que isso Mariana, eu ajudaria qualquer pessoa na sua condição, isso não se faz.
                – Eu sei, mas mesmo assim muito obrigada e me desculpa pelos meus tratamentos com você antes... de verdade.
                – Tranquilo garota. Mas e então, você e Bernardo...?
                – Ah não. Não, não.
                – Vocês saindo do clube juntos e entrando de mãos dadas na aula... Ficou bem casal.
                – Eu não faria isso com ele, sabe? Eu sei que ele gosta de mim, mas não posso usá-lo como escape e também, ele tem sido muito legal comigo, muito mesmo.
– Entendo...
~
                No fim da aula Catarina volta a pensar no diário, na carta agressiva que recebeu e pensa que não pode deixar isso pra trás assim, logo de primeira. Se a pessoa que escreveu o diário for a mesma a quem as cartas estão sendo entregues, ela vai compreender. Tinha certeza que ia. Assim que chega em casa começa a escrever:

                “Não sei o que disse na outra carta que deixou você tão revoltada, mas não foi minha intenção. Eu realmente quero saber quem escreveu o diário pois achei coisas muito bonitas escritas nele e me identifiquei com muitas coisas descritas ali. Se o diário é seu, gostaria de compartilhar muitas coisas com você, além de um ótimo gosto literário a  sua história de amor descrita nele é muito parecida com uma história minha, só que com um final meio que diferente...
Só quero conversar, nada mais que isso. Mas se você não quiser, eu compreendo. Caso contrário, sempre vou na casa do endereço aqui no envelope, se quiser me responder, ficarei muito grata.”

Catarina não esperava receber a resposta muito cedo, mas foi enviar o quanto antes.
Passou a noite pensando nos últimos acontecimentos: a festa, a conversa de Pedro e Mariana, ou pelo menos havia tentado pensar. Mas nada lhe permitia ficar mais que dez minutos sem pensar no diário, em quem escrevia e se a pessoa que lhe respondera era realmente o dono do diário.
No outro dia foi à escola e praticamente ninguém havia ido. Rodrigo contou-lhe que Pedro já havia dito que não iria, porque ainda achava que Mariana estava com Bernardo. Bernardo e Marcelo haviam viajado juntos e só voltariam pra Belluno de noite, Letícia e suas amigas faltaram aula pra ir ao shopping. Com isso não havia como o dia na escola não ser tranquilo. Mas mesmo assim as aulas fizeram questão de se arrastar. Catarina já não aguentava mais ouvir aquele professor falar da Segunda Guerra Mundial quando o sinal finalmente toca.
Catarina vai pra casa acompanhada por Rodrigo, se despede e corre pra dentro de casa pra falar com sua mãe, mas percebe que ela não está. Decide então ir à casa secreta pegar algum disco ou livro. Quando chega na esquina, a primeira coisa que vê é o carteiro saindo de lá. Corre para ver se é a resposta, quando chega lá percebe que é um envelope e abre:
Primeiramente, desculpe-me por ter sido grossa daquela maneira, achei que era algum engraçadinho querendo fazer algum tipo de piadinha comigo. Sim, você disse que encontrou meu diário, como? Eu o guardava aqui e faz, eu acho, que uns três anos que ele sumiu e eu parei de escrever. Se puder me devolver, por favor, eu agradeceria. Ele me traz muitas lembranças da minha vida, boas e ruins.

Sobre o meu amor ser lindo, obrigada. Mas saiba que esse meu amor foi forte, mas não mais forte que tudo. Acho que a natureza não gosta muito de mim, ela importuna minha vida, traz saudade, mais amor e menos meu amor.
Mais uma vez, me desculpe. Não queria ter passado uma imagem de revoltada, mas são as circunstâncias que mexem com a gente sem percebermos.
Responda logo,
L. D.                           .

Nenhum comentário: